In Fios da Meada - testemunhos para uma colecção imaterial A casa e a músicaFernando tem acompanhado as transformações do Solar dos Zagallos ao longo dos últimos quase trinta anos – metade do tempo viveu as mudanças de perto, de um lugar privilegiado a partir do interior da propriedade; na outra metade esteve à distância, observando e pensando o possível regresso. A música foi o elo que ligou todas as pontas. A história começa em 1991 quando Fernando é convidado pelo Centro Cultural de Almada para integrar a direção da Escola Profissional de Música de Almada. Em Setembro desse ano inicia o 1º ano letivo que arranca com 15 alunos. O edifício principal do Solar foi disponibilizado para as aulas: “Onde é hoje a galeria era a sala de turma e no andar de cima as salas de instrumentos que se estendiam até aos salões. A entrada para os salões estava vedada porque tanto o tecto como o chão estavam muito degradados.” Sabia-se ser uma estadia transitória pelo inevitável avanço das obras de recuperação e restauro. Em paralelo, também os últimos caseiros da família Piano que ainda residiam na zona agrícola, junto à enorme azinheira, se despediam da propriedade. Depois de um ano e meio na Costa da Caparica, é exactamente na antiga zona agrícola que a renomeada Escola Profissional de Música e Artes de Almada (EPMAA) se instala, ao mesmo tempo que o Solar dos Zagallos inaugura como um espaço cultural municipal. Ainda sob o aval do Centro Cultural de Almada foi criado em 1998 o Conservatório Regional de Almada para formar desde pequenos os alunos que poderiam vir a continuar os seus estudos na EPMAA. O Conservatório ocupou um edifício pré-fabricado instalado para o efeito no espaço do Antigo Campo de Ténis. Ainda hoje é possível encontrar a marca desta passagem no local. A procura por parte dos alunos foi crescente, em paralelo com um trabalho profundo ao nível musical e humano. “Estabeleceram-se relações muito fortes nesse período e havia uma ligação especial com o local.” O ano 2001 ficou particularmente registado na História da Escola: se por um lado foi um ano de estreias, com a organização das “Noites de Primavera” e da 1ª “Festa no Solar dos Zagallos”, foi também um ano de encerramentos – apesar da maturidade alcançada pela Escola Profissional que totalizava 300 alunos, e da importância crescente do Conservatório que contava já com 200 alunos, as irregularidades dos financiamentos e os problemas administrativo-financeiros entretanto surgidos leva-os a abandonar a sua morada de há oito anos e a interromper este progresso. No entanto, a perseverança e vontade da equipa recentra-os na procura de um novo espaço, e a Sociedade Recreativa Musical Trafariense foi a casa que os acolheu. É ali que surge, em 2003, a Academia de Música de Almada. O espaço outrora frequentado por centenas de alunos, na antiga zona agrícola, fica inactivo durante 12 anos. O abandono deu origem ao vandalismo, e ainda hoje é possível identificar nas tábuas do soalho de algumas salas as queimaduras na madeira, feitas certamente pelos ocupas. Crê-se que uma dessas fogueiras se terá, certa noite, descontrolado e originado um incêndio nas salas mais próximas do portão, na extremidade da propriedade, salas onde todo o recheio do centro de documentação e alguns instrumentos se encontravam armazenados. O incêndio obriga a uma nova recuperação, e em 2015 estão reunidas as condições para a Academia de Música de Almada (A.M.A.) ali se estabelecer. A zona da direcção e secretaria ocupa hoje o edifício onde se localizava a habitação dos últimos caseiros da família Piano, resistindo o armário do quarto e o pavimento autêntico da entrada. Na zona da pocilga, onde é possível identificar no chão a localização dos muretes que dividiriam os animais, começou por ser uma pequena cantina, e é hoje a sala dos alunos. Na área outrora ocupada pelas vacarias estão hoje situadas as salas de instrumento. O recinto do pombal foi aumentado e ali se criou um auditório e novas salas de aula. Estudar no Solar não é, naturalmente, um aspecto indiferente para a maioria dos alunos que pode, novamente, usufruir deste lugar. Há um carinho que se diferencia e que chega acompanhado pelo sentimento de liberdade. Há um encantamento e um bem-estar que se estende aos pais, e até a espera pelo fim da aula dos filhos aqui se torna num momento prazeroso. Fotografias e documentos do espólio da Academia de Música de Almada |
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Outubro 2018
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